quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Falou e disse, Luis!
Ao ler o livro Time dos sonhos - paixão, poesia e futebol de Luis Fernando Veríssimo, me deparei com um capítulo interessante retratado pelo autor, no qual ele alerta, de forma um tanto que poética, sobre a necessidade no futebol atual, do surgimento do jogador precoce e que tem como consequência uma possível decadência ainda cedo deste atleta. Aqui vai o trecho a que me refiro e assino embaixo.
NOVILHOS
"Durante muito tempo o Pelé de 58, campeão mundial com 17 anos foi um fenômeno único. Não apareceu outro Pelé no futebol brasileiro nos, o quê?, 40 anos seguintes. Porque o Pelé seria único com qualquer idade, mas também porque não havia muita necessidade de fenômenos precoces como ele. Hoje há.
Já ouvi compararem o nosso futebol à nossa pecuária, que vende o gado para corte com cada vez menos idade porque cresceu o mercado para carne de novilho, mas principalmente porque ficou caro demais esperar que o boi chegue à sua idade "normal" de abate. Sem meios para evitar que seus melhores jogadores partam para a Europa, ou para competir no mercado mundial de bons jogadores, o futebol brasileiro também estaria recorrendo aos seus novilhos. Investe-se na precocidade porque não há mais tempo e dinheiro para esperar que os projetos de Pelé amadureçam e apareçam. E o novo protótipo de jogador brasileiro é o menino que passa de "juvenil promissor" a revelação da semana sem qualquer estágio intermediário. Não é que a safra seja boa, se posso misturar as metáforas agropastoris, é que a crise está brava. Precocidade não é mais fenômeno, é ultimo recurso.
Antigamente se hesitava em lançar garotos bons entre os titulares para não "queimá-los". Além de não terem corpo para enfrentar os profissionais, eles não teriam estrutura psicológica para enfrentar o eventual fracasso. Na crise, não há mais lugar para esse tipo de escrúpulo, que também servia para proteger o emprego dos mais velhos. Pintou um bom recém-desmamado, está escalado. E, mesmo, como esta geração de meninos parece compensar o pouco físico com uma autoconfiança congênita e uma arrogância de top-models (que, com 17 anos, também já desfilam como se soubessem tudo da vida e do mundo), falta de experiência não significa mais nada. O que pode acontecer é o futebol se transformar numa atividade, como a natação e o tênis (e a de modelos), em que com vinte e poucos anos, a pessoa já começa a temer a decadência e a ser desafiada por novas crianças.
Agora, que é bom ver essa garotada jogar bola, é."
Luis Fernando Veríssimo
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